Entre sem se perder...

domingo, 29 de dezembro de 2013

Arauto


Há de haver um par de olhos
atrás deste elmo.
Por trás deste escudo,
há de haver um comboio de cordas
igual ao do poeta português aquele.
Há de haver honra
 no fio desta espada.
Disse coisas,
que não poderiam ser pronunciadas.
Ajoelhei,
quando tu deverias ter curvado.
Consagrei o homem,
quando deverias reverenciar a fêmea.
Supliquei que não fosses,
quando tu deverias ter mantido.
Tornamos público,
o que deveria ser secreto.
E agora,
somente a tua vontade preservo.
Antes de terminares de ler,
antes que penses
que poderia ser diferente...
Já estarei nos braços de algum outro.
E assim proclamo: 
Antes que conheças deus,
adeus.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Arco da minha íris


Sem nunca ter ido,
tu voltas... 
reconduzido pelo tempo.
A prodigalidade
te conduz pelas mãos,
te cura os joelhos,
te curva a cabeça.
A viração apresenta
o amor infindável
que retorna esta noite.
Repousa sobre mim,
uma de tuas asas, 
a me guardar da chuva
que afogou meus pés.
Daqui a pouco mais,
volto montada no vento,
desdobrada.
O amanhecer
anuncia que não é sonho.
Depois de toda a tempestade,
sempre recolho
 o teu amor pra dentro,
todo molhado...
E nos dias que se seguem,
não paramos de gotejar.

domingo, 15 de setembro de 2013

Muitos serão chamados...


Pra baixo,
podemos arrastar qualquer um...
Pra cima,
apenas os escolhidos.

Embaraçada


Tenho tanta preocupação com o meu filho;
que não quero nem que ele nasça.

Descendo do pedestal



Respondo com raiva
a desnecessidade de ter que dizer...
Nem musa,
nem deusa, 
nem sagrada.
Sou carne, osso,
sangue, suor;
todas as secreções possíveis,
a imensa fantasia
de achar que me pertences,
a ânsia infinita
de que apenas me faças mulher
novamente.
E isso,
não tem nada de esotérico
... ou tem? 

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Una


Cala-me...
Com tua boca
a boca não abro.
Há umas várias...
Todas gastas.
Todas castas.
Que tu de flores.
Que tu deflores.

Alquimia


O vento enxuga
o pranto sem fim das videiras,
que emocionadas, foram escolhidas
para dar de beber a todos
o melhor do espírito.

domingo, 8 de setembro de 2013

domingo, 11 de agosto de 2013

O Martelo

( Homenagem a inegável coragem de ensinar da Professora Neiva Farina)


Quem és tu mulher?
Que fala o que pensa;
que expressa o que sente;
que ousa ensinar e
que pratica mancias?

Santo ofício é o nosso!

Quem és mulher insurreta?
A própria escola;
o aprendizado oculto;
a doutrina secreta,
ou o próprio princípio?

Como ousas inquirir nossos filhos?

Quem és fêmea subversiva?
Que adora plantas e animais,
que não reverencia o nosso Deus.
Quem és canhota, sinistra,
esquerda, criatura vermelha? 

Condeno-a a censura inapelável;
Condeno-a a privação dos sacramentos;
Condeno-a a excomunhão eterna.

Pare de nos torturar mulher e confesse;
porque do teu corpo
não sobrarão os dentes.

Como podem te tomar por santa,
se propagas a nudez
e a queda dos véus?

Deita-te sobre o nosso braço secular
e repousa tuas ideias
na fogueira dos hereges.

Queimem-na por tomar banho,
por pronunciar tais palavras,
e por além de afronta,
pretender fazer escola.

Junto ao teu corpo pecador
destruam este livro maldito.
Condenem o autor, o editor,
os leitores.

Derradeiro, condenem sem dó,
todos os seus aprendizes,
para que ninguém mais
 siga sabendo.

domingo, 28 de julho de 2013

Entrando numas...


Desloquei a patela
 rodopiando na rótula.
(...) me deram muita corda.
Danço finita,
 numa noite ruiva, interminável.
Fui despejada da caixinha de música.
Por um momento,
perdi o sapato e a paciência.
Sobe pelas minhas tranças 
e me salva da torre de pizza.
Paguei o taxista com analgésicos.
Queria que a dor fosse de cabeça.
Não se mente quando se interpreta.
Eu acho que acreditava.
Os postes estavam afinados conosco,
por isso amarelamos.
Paralelepípedos assistiram imóveis
ao nosso amor inquieto.
A casa 63 pede novos donos.
Enquanto não formos nós,
ninguém será feliz lá dentro.
É só me dar palco
que dispenso o camarim.
É que não uso maquiagem. 
Amadeus estava sempre fechado.
E ele, não era o único.
Não vi a placa de pare
no fim do cruzamento.
Há um Buda que ri e outro que chora.
Não há quase vida neste lugar,
então permaneço aqui plantada.
Underground demais pra ser romântico.
Solta os freios... 
Pra cima é que não se tem ajuda.
Não encontrando o caminho
tenta vir pelo teto.
Enquanto não chegavas,
mudei tantas vezes de lugar.
Jamais teria entrado nesta rua,
se soubesse que restaria pra sempre, 
sem  saída.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

domingo, 7 de julho de 2013

Missão



Ignore os espelhos... Toda a luxúria é ilusória.
E por que me fizeram assim?
Por onde deves andar eles precisam ter certeza que você é um deles.
Mas... se não sou um deles, por que, às vezes, duvido?
O seu trabalho é resgatá-los, o deles é convencê-la do contrário. 

Mea culpa


Troquei as mãos pelos pés...
o versa pelo vice
e fui tropeçando
nos próprios braços.
Plantando bananeiras 
para sobreviver.
Então,
como tomates verdes fritos.
Eu criei girafas no quintal.
Ousei inventar o mundo,
naufraguei no raso
da tua extrema lucidez.
Toda a dor de menisco
é incapacidade de rezar.
Eu celebro o útero 
e tu consagra a tua esterilidade.
Eu carrego pedras
que não pesam.
Tu penas pesadas.
Não aprendi tua língua,
não tive teu sobrenome,
mas reverencio o teu nome.
É admissível castelos na areia,
mas o inabitável mora em ti.
Liguei o ar 
porque tu é condicionado.
Toda a predileção por rock
é esta vontade sem fim 
de apenas dançar sozinho.
Não entendo esta hipotermia
se todos logo que morrem
permanecem quentes.
Desliguem a câmera fria
só para que tentando
 me lembrar do teu calor
eu possa te esquecer.  

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Samsara



Magnífica engrenagem.
Transmigrar de gerações.
Lá vem o devir...
Lá vem o vir a ser.
Condenados a impermanência.
Movimenta a polia em seu eixo.
Faz-nos circular
 neste mundo concreto
de "faz de conta".
Abelhas aprisionadas na colmeia,
obrigadas a produzir mel
ou a provar do próprio fel.
Rainhas e operárias submetidas
ao nascimento - vida - morte,
assim por diante.
Infame alegoria,
mudar 360 graus.
Quando a roda gira,
completa a ironia.
Voltamos todos
 pro lugar de desatino.
Retornar ao mesmo ponto
 é nosso destino. 
















domingo, 30 de junho de 2013

Senhora


E tu olharás
no fundo dos meus olhos,
e dirás 
que a tua senhora,
chama-se
 Senhora da Luz Velada.
(...)
E neste dia,
o universo fará,
 todo sentido pra nós.

terça-feira, 18 de junho de 2013


(...) se por um lado,
fé demais, cheira mal;
por outro,
o mais devastador tipo de fé,
continua sendo
a crença na descrença.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Armadura


A fresta espreita o seu mundo
de guerras equivocadas,
 ilusórias.
Sem rumo,
ele marcha,
com saudades
 da própria solidão.
O rancor pesa,
 entalhado no aço.
O cavaleiro digladia-se.
O herói carrega Atlas nas costas
e sua falta de fé no bolso.
Não há honra maior
do que ser vencido pelo amor.
E pra isso a vestimenta
é apenas um peito nu.
Toda a donzela
só precisa de um lenço.
Será o sinal
para iniciar a travessia
do seu estreito canal 
e te fazer nascer de novo.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Descrença



Sou a espera, a calma.
Há uma mansidão 
nessa minha inquietude.
O que trago, veio comigo.
Abriste mão de mim
por isso, me levaram.
Não sabias quem eu era?
E não sabes ainda 
o que fazer comigo?
Todas estão contidas em mim.
E este poder é feminino.  
De lembrar, agora mesmo,
desprende...
Eu dancei na tua frente,
nua e prateada.
Tu não me viu.
Tu também não acreditavas 
e aumentaste o coro dos incrédulos.
Sou aquela cercada de animais
por toda a volta.
Ao pronunciar meu nome,
ouvirás um hino em teu louvor.
Cala-me pra sempre
porque só a ti é permitido.
Se a beleza te confunde,
fecha os olhos
e fica só com o meu espírito.
Toma-me em teus braços,
uma única vez,
e recordarás que todo o meu corpo
é pura oração. 

domingo, 12 de maio de 2013

Renúncia






Sou o mistério que se desvela.
Sou este misto, este vulto.
Parto pra nunca mais.
Matriarca e tu não entendes.
Não importam minhas sementes.
Não queres linhagem...
Cultuar todas as bandeiras do mundo
te fará despatriado.
A ti importa um amor a cada guerra. 
Eu, no entanto, devo ir...
porque se fizeres amor comigo,
uma vez mais, 
morrerei em teus braços.
Estou prestes a me ver refletida. 
Estamos próximos de desvendar
o mistério da crucificação.
Todos os magos sabem quem sou.
Sou aquela que tendo o poder, 
o maior de todos os poderes, 
abdico, por amor,
apenas para ser como tu és,
um mísero mortal.

sábado, 11 de maio de 2013

Chegada a hora...

 (Para Maria Fernanda Serpa, em 11 de maio de 2013)


Quando alguém morre...
um minuto do nada é concedido.
Tudo pára, tudo suspende.
Cada passagem dispensa um instante.
Ninguém de nós sente, ninguém de nós percebe.
É o tempo dentro do tempo.
É a relatividade das dimensões.
Naquele instante de suspensão,
Ele,
em sua infinita magnitude,
homenageia a todos que partem
com um minuto de silêncio
 e uma música inaudível.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Estado de coisas

(Sétimo dia após a tragédia de Santa Maria/RS - 2013)



Cantavam, dançavam, sorriam,
e assim, se repetiam.

Então...
Sorrisos pediram licença.
A música fez silêncio.
As vozes calaram.

A cortina fechou a única saída.

Aqui jaz
a omissão de uns vários...

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Dançam os 7 véus




Não te voltaste pra mim

como te voltas pra Meca.

Então...

vagas até hoje

nas areias do meu deserto.

E me curvo

a tua reverência peregrina

Apenas para que as vezes

continuem as voltas

com a magia.

E apesar disso...

o tapete voador foi incapaz

de nos fazer sair do chão.

O Islã

 hoje

não quer lembrar

a antiga doutrina secreta.

Consulto o que resta de nós

na borra

 que te faz reaparecer

no meio do café da tarde.

Salazar...

tu me chamavas

sem saber o significado.

Eu...

uma moça pseudo-cristã

praticamente uma pagã.

Prefiro não crer

nas mil e uma noites.

Assim...

os dias nunca anoitecem

e eu

 jamais danço no teu ventre.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Embarque pelo portão 7


Hoje eu encontrei com Deus...
no teu corpo estremecido
no movimento breve
no desfalecimento morno.
Hoje eu encontrei com Deus...
para um mergulho
sem que eu soubesse
a profundidade.