Entre sem se perder...

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Não se trata disso



Sou a menina que alimenta o gatinho da esquina.
Já sou quase uma senhora Balzaquiana.
Ainda ontem
no colégio me apaixonei.
Saudades da professora de geografia!
Varro folhas secas que caíram do vizinho.
Amo um homem velho e teimoso como meu pai
Sorrio com esforço todas as manhãs.
Se for feliz terei chegado com atraso.
Não caminho porque o medo paralisa.
Adio todos os dias minha partida.
Não consigo publicar minha insatisfação.
Rasgo papéis
arrumo gavetas
e a vida - alheia a tudo isso.

Cria


Adentra esta brancura.
Faz-me inquieta.
Fecundas palavras
no quase silêncio...
Rabisco o teu destino
e amasso meus planos.
Resto só e grávida.

Ausente

Menina desfilo
cantarolando qualquer coisa
como a vida desafinada.
Do outro lado da calçada
o futuro invejo.
Sei que aquele não é o tempo.
Mas nunca será.
É sempre desencontro.
Se no passado via o futuro
no presente o passado vejo.

Aparte

Parto para chegar
também ao sair...
Parto sempre deste pressuposto
que tudo é integrante do todo.
Penso tudo isso
apartada de mim...
Com vontade de partir
para única morte que não poderei chorar.
Gostar de viver é
às vezes
ter vontade de se matar .

Lá pelas tantas...


Pensei abreviar tudo.
Desisti.
Em direção contrária as setas
abraço o nada.
Levo paisagem.
Acabam-se as curvas.
Começo a cumprir
o ritual da grande reta.
Dizem que não se chega
a lugar nenhum.
Penso voltar.
E sem convicção

morro comigo!
Não agraciem a lápide
com uma inscrição bonita.
Prefiro a poeira nas ruas...
Não haverão vestígios de minha existência

(...)
só a notícia da tragédia em páginas de jornal.

Roda viva

... seriam os deuses implacáveis?
Doce roda gigante
a esmagar o alheio
...
(Errar é que é divino!)
Perdoar é humano.