Entre sem se perder...

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Marionete


Pobre porcelana
não sabe o quanto ruim e triste
é a bonequinha.
Pobre branca porcelana
não sabe o que a bonequinha tem por dentro.
Pobre vestido
acoberta a maldade
entranhada na espuma.
E o que dizer
do infeliz sapatinho vermelho
que se calça de infantil
mas que deseja.
O que falar do verniz
obrigado a refletir toda a feiura
escondida num sorriso
de gengivas predominantes.
Até as crianças riem de ti
brinquedo em jogos de adulto.
Todos a tua volta riem
com esta franjinha
pretensa colegial.
Todos te repulsam
dona-da-razão.
Pobre órfã
se ilude
ter sido adotada.
Ninguém brincou de boneca contigo
bonequinha.
Que o guarda-roupa
guarde também tua solidão
e o fundo do baú
te salve do fundo do poço.
Boneca inflável
todos te vêem
bonequinha
que se vende
por bem pouco.
Estão te dando corda
bonequinha
te dão corda
diariamente...
Só pra te verem
cedo ou tarde
quebrar.

Rebelde


Por um fio
o vermelho percorre.
Sangüíneo
desalinhado.
Desgrenhado.
Ora ondulado
não é nada liso.
Abandonou o curto e grosso
pra ser longo.
Bem mais longo.
Por agüentar as pontas
ando até a raíz.
Bulbo oleoso
ponta dupla.
Corto na minguante
porque cresce
cresce este meu jeito
que não sai da cabeça.