Entre sem se perder...

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Cerberus





O monstro tricéfalo esteve conosco.
Vistes uma única cabeça, senhor.
Ele atende aos comandos...
Sou a senhora da matilha,
a rainha da encruzilhada,
a senhora dos cemitérios.
Ele me obedece, senhor...
nem por isso, não o temo.
Mas moro aqui e aqui reino.
Permitiram que entrasses...
Pensas que saiu?
Continuas dentro.
Uma vez dentro,
tu serás cativo.
Não por vontade minha,
mas impossibilidade vossa.
Senhor,
falastes de Epicuro,
não foi eu.
O titã habita o tártaro,
pertence ao terceiro inferno.
Lá, condenamos os gulosos.
O aviso foi dado
e não soubeste interpretar.
- Tu não a podes tocar.
Significa: contemple-a.
Agora,
provarás a falta de apetite.
Não era uma corrente,
eram serpentes.
É Kundaline, senhor.
Só o fogo serpentino
derrete o ferro.
Ninguém é boa ferramenta
antes disso.
Encandeça, derreta-se.
Escorra.
Descer ao Hades
é a última tarefa das doze.
Amarás pra sempre.
Volte,
coma o quanto puder.
Quando a lua mingua,
Não me chamo Heloise,
me chamo Hécate.
Cerberus é a sua razão,
montando guarda.

Sexualidade


Entre o ultravioleta e o infravermelho,
muitos são os comprimentos de onda.

quarta-feira, 21 de maio de 2014






Você será apenas mais um,
dos muitos que me esqueceram.

A cegueira nossa, de cada dia, nos dai hoje...


Consagras o equívoco
Retroages,
recuas, recusas...
És um insurreto.
Vai de retro.
Negaste-me três vezes...
mas, o galo não se cansa.
Beija-me como Judas.
Não enxergas deus
e a culpa são dos óculos?
Amas umbigo...
És a ode aos carangueijos.
Continuarei grávida
pra sempre.
Ao amanhecer,
te amarei novamente.
Saiba que... eu vi.
Procuro o sol.
A noite,
orbita em ti
minha lembrança.
A nota é dó,
A marcha é ré...
É tua humanidade.
Entre os pontos há distância.
O universo nos separa.
O homem que és,
é a mulher que sou.
Haverá vida pra que entendas.
Toda a negação em me ver
é o medo de te enxergar.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Tantra Regra


Na hora da fome,
todos perdemos a elegância.

Deixe vir a mim




Todas as noites engravido
um sonho recorrente de gestar.
Sinto uma alma no ventre
que só me ama,
sem que me possa tocar.
Durmo embalada
por muitas crianças
que nunca puderam chegar.

Dama sem doma

(George Clairin - Dama das Camélias)



Dom Camilo...
 
Valho algum camelo,
ou sou de camelô?

Podia assinar Camila,
mas prefiro Camélia.

Pisces





Conte até doze.
Mergulhe no último.
Afogue-se.
É o aquático mutável.
Meia lua pra baixo.
Meia lua pra cima.
Escamoteia de cristão,
com escamas de pagão.
Vá até 360º e pare.
Beba do fleumático líquido.
Secreto universo,
banhado em silêncio.
Santo e louco.
Gênio e medíocre.
Glifo de extremos.
Útero e morredouro.
Nascedouro e calunga.
Jesus pescava homens.
Seriam asas de nadar
ou nadadeiras de voar?
Salve o que respira
dentro d' água.
Mudo, distante, secreto.
Zona profunda do contemplativo.
Peixes morrem pela boca.
Na imensidade do inconsciente,
multiplicam-se.
DAGUIM - e o sentido do cardume.
Santificação molhada.
Reduto primordial.
Mar-verde-ambivalente.
Meu-mar-mítico.
ICHTHUS - para quem tem fome!
A água é pele
que ninguém fere.
Onde começa a gota,
termina o oceano.
Filhos do domínio de Netuno.
O pó retorna ao pó,
a psique ao oceano.
Não reconhecem limites.
Não há forma possível.
Na lâmina d'água,
a fronteira entre dois mundos.
Eles não dormem,
alternam vigília e repouso.
Tente...
agarre um deles com as mãos!
Na superfície, morrem.
Na profundidade, tesouros.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Santificado seja o vosso nome




Duas colunas
edificam o vosso prenome.
Como lhe chamam
já é mistério por si só.
Vosso corpo circuncisado
é díade sagrada,
é a disposição em paralelos,
é a reconciliação dos paradoxos.
Tudo é duplo, Senhor.
Não estranhe vossa natureza.
Tudo tem dois polos.
Quando nascestes, Senhor...
algo apontava para o Oriente.
Aguardava-o,
mulher egípcia, que sou.
As letras que restam,
são tijolos,
o templo de vossa alma.
Deves cumprir a promessa.
Torne-se arqueiro.
Temos história para encenar.
Marcada pelo retorno.
Sei que posso regurgitar.
Devolvo o fruto à árvore.
Basta que me tome em seus braços.
Basta que caminhemos juntos.
Ter filhos é desejar...
é vestir-se de Maquiavel,
é inebriar-se com Narciso.
Voltemos pro reino, Senhor.
Porém, se o acaso nos brindar,
separados,
daria nome ao amor,
chamando-o de astrolábio.
Estando juntos,
um filho nosso,
teria qualquer nome,
desde que pronunciado
na língua do filho de deus.