Entre sem se perder...

sábado, 1 de outubro de 2011

Gira mundo


Há qualquer tempo
mesmo nos
consagrados ao relâmpago.
Há anos...
Amo o instante agora
que desafina
que desafia
que desalinha.
Vivo o limiar
do fio da navalha
da ponta da lança.
da lâmina do machado.
 Em tudo há amor retido.
Em cada entrelinha
em cada linha
em cada ponto.
No núcleo do átomo.
Corre
gira
e me levas...
E firma o ponteiro no segundo.
Então hora altos
hora baixos
na velocidade imprecisa
em que pensamos
que isso é estar vivo.
E te amo agora
porque tudo passa.
Não é sã a consciência 
é pura metafísica.
Amo porque é cósmico
não é de agora.
Agora
precisamente agora
onde até o ódio
é amor adoecido.
Quando calo...
todos me escutam.

Letras órfãs, palavras sem pai, nem mãe...

Os restos de amor
batem à porta
do judiciário.
Testemunha-se
o estridente deslinde
de uma noite de amor
que resultou em
investigação
de paternidade.
A criança violentada
atenta a discussão
não mais dos pais
mas dos teóricos.
Resultam pilhas
de papéis sem solução
os ligames adoecidos.

Pretende-se escrito
tudo que deveria
ser tácito.
O casamento
discute longamente
com sua natureza contratual
acabando em divórcio.
Peticionamos por socorro!
E o amor
 diante de sua infinitude...
resta apenas apaixonado
por uma lide.

Solitária Gota d'água


O macro compreende suas partes...
As partículas
- se desunidas -
 jamais entenderão
 o todo a que pertencem.

Nem tanto ao céu...

Assumo todas
 as minhas contradições
 como traços da minha
 mais absoluta
coerência.

sábado, 3 de setembro de 2011

Diga como se faz a festa!



                                                       
 À Mestre Obashanan

Pela primeira vez
num Lá
bem longe...
Surge Ayan em seu tambor de dormir.
Envolta por mistério profundo.
Dança ao toque de sua potestade.
Ouve-se a percussão da vida
e a música vira entidade.
É o ritual que inicia.
Nasce no mundo
o contágio por esta tal alegria.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Confidencial


Reconheço-me
 como uma senhora profana
mas te olho com ares de dama antiga
e me presto a enfeitar meus cabelos curtos
como se longos fossem
para te iludir quanto à época
em que estamos.
E confiro a ti uma intimidade
incompatível com o período
e me permito dizer
 com um tom de vergonha
o que uma mulher de respeito 
e casada jamais diria.
Entre sins e senãos
peço para que me encorages
e com vergonha
do meu colo nú
nas tuas mãos
falo
sem querer
terríveis absurdos
coisas impublicáveis
que somente uma paixão
 justifica. 

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Do mar o que não se doma


Senhora de todas as fontes
surge das minhas profundezas.
Pisa à beira-mar
onde dorme o meu descanso.
Mergulha no abismo profundo
onde sempre me canso.
Deusa dos arrecifes da costa
leva contigo a onda revolta
e faz o mar serenar.
Habita pra sempre
essa espuma fecundante.
Salve as quatro marés tuas!
Oh, grande mãe d’água!
No teu enxoval
navega o meu amor
e naufragam meus ódios.
Celebro no útero
a tua energia geradora.
Festejo no corpo
o teu eterno feminino.
Repousa mãe
na minha lagoa de dentro.
Vive no meu pequeno poço.
Guarda o meu manancial.
Governa essa minha ressaca.
Veste-me
com tuas algas.
Cobre-me
com o teu limo.
Ensina
esta ostra machucada
a ser pérola.
Avatar
d’água turva e suja
Mãe minha
cristalina e pura
Titãn
na confluência entre meus dois rios.
Odoiá
 linda sereia!
Canta dentro deste copo d’água
que aguarda sempre

domingo, 12 de junho de 2011

Em noite de demanda...


Vestidas ou nuas
vermelhas criaturas
dançam e se regozijam
e vibram e bailam
e riem e se divertem.

As nossas custas
em noites de magia
o inverno se derrete
e o vapor que solta
prende.

Em ritos assim
mulheres engravidam
e uivam ao desespero
e gritam e surtam
e incorporam divinas
sorridentes
fêmeas rubras.

E tudo ao redor
prende fogo...
travesseiros
guias
lençóis.
A cópula é templo
a cama congá.
As vulvas ardem.

E não se diz que ama
sem comprometer 
a memória pra sempre. 

terça-feira, 12 de abril de 2011

Travessia do rio de dentro

Entenda os recados...
É primavera no outro hemisfério.
Não estranhe os calores
 portanto.
A lua nos fazia crescentes
quando escorri pelos teus braços.
E olhando pra boca
te beijei os olhos
desfalecida.
Minh' alma deslocou
para que tua aura pudesse repousar
dentro de mim.
Viva amor
este é teu melhor momento.
Aplaude a luz
que se debruça sobre o espelho d'água
pra te ver me penetrar.
E a cândura chega
só pra espiar de perto.
Eu ali
sem mais
 nem menos
gozando no teu colo
estando muito bem vestida
mas pela primeira vez
completamente nua. 

domingo, 10 de abril de 2011

Perfume de Magnólia


Alma minha...

também sinto o inalar
das horas que se vão...
das horas poucas
que me esgotam.
Mandam avisar
das madrugadas nossas
recobertas de pólvora.
Não foi uma
nem duas...
ao soltar tuas mãos
gotejam os dedos.

Meu senhor...
amo-te inexplicavelmente.
Então, a morte
me seria prazerosa
se fosse tu

a me conduzir por ela.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Antes do Começo


Hoje
perderei o sono.
Hoje
perdi nosso primeiro filho.
Meu útero chorava nossa perda.
Hoje
perdi uma parcela de nós.
Hoje
perdi o que podíamos ter sido.
Hoje
perdi uma chance.
Hoje
se foi a primeira chance
 que nos deram.
Hoje
nos perdemos um do outro
 pela primeira vez.
Hoje
me inunda este mar de despojos.
Hoje
perdi minha real utilidade.
Hoje
por minutos
merecia estar morta.
Hoje
todas as chances do mundo
parecem poucas.


Não costumo chorar em velórios
quando todas as chances vão embora mesmo.

Costumo sofrer quando alguém nasce.

Por isso não entendo o porquê
não consigo estar feliz.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Yasodhara


Mostra
ensina.
 Até que eu saiba.
Até me exaurir.
Nutre meu ego com a languidez
dos teus pequenos olhos
de olhar pra dentro.
Beija
e violenta.
Assalta
e toma à força.
Enfeita-me para a morte
que te embelezarei para a vida.
Envelopa minha carne
com cores do invisível.
Entoa meu canto
com as notas do inaudível.
Casa comigo todos os dias
e sempre
e sem cerimônia. 
Despeja tua semente
nas minhas águas
 que nunca param.
Nadarei ao infinito
(...)
em direção
 ao Deus que te tornarás.  
Ele dava um dedo para não entrar numa briga.
Comigo acabou sem as mãos.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Pijama de Sapo

Ali, tenta dormir
e insiste num quarto minguante.
Cobre-se de bruma com seu travesseiro de passear.

Ali, vira mundo
em seu tapete voador,
com sua girafa que dorme no aquário.

Ali, revive o medo
que as paredes tenham ouvidos.
Então, se disfarça com tinta de todas as cores.

Ali, ele gira.
Faz macumba pelos cantos
e pensa que sua magia é mágica.

Elefante grená,
brinca de balconista
na loja dos cristais azuis.

O menino mago
finge que é autista
e a platéia se convence.

Ali,
escreve cartas para a rosa,
namorada de outro príncipe.

Ali, baté pé...
decidiu que quando crescer
quer ser criança.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Bárbara Tormenta

Não temo os mortos
os acompanho.
Repouso sobre o campo de batalha.
Sou vocacionada pra guerra.
Brando justiça.
Sou filha da minha vontade.
Minha cabeça
meu guia.
Meu passo venta forte.
Só me banho na tempestade.
Autoritária não!
Autoridade.
Nos olhos
relâmpagos.
Não falo
trovejo.
Coberta de vento
danço meus triunfos
arrebato multidões.
Amo só a desmedida.
Venço demanda.
Dou a quem é de direito
nem que pra isso
os pratos se quebrem.
Quando chego é viração.
Eparrei!
não preciso dizer muito. 

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Cedo ou tarde


Diante dos teus olhos
só direi silêncios.
Não farei promessa alguma.
E direi que te amo
com o calor dos que odeiam
porque a mão que afaga é a mesma.
Para bom entendedor
meia.
Lavra minha pele.
Meia palavra não.
Basta brincadeira.
Apedreja.
Direi que odeio
e mais e mais
e tanto e tanto...
A vida é assim.
Pouco importa os anos.
Eles
vão.
Não sou boa de números
mas há o que importa...
Conhecerás a mim
 não de ouvir falar
mas por tudo o que não dizem.
Reconhecerás meu retrato falado
na órbita de quem me procura.
E me reconhecerás em meus parentes
apesar deles não se reconhecerem em mim.
Sempre atenta às pequenas coisas.
As grandes já requerem
por si só
platéia e atenção.
Rirei muito
mas muito
dos meus defeitos.
Chorarei pela tua incapacidade de rir.
Direi que te amo
muita vezes
e terei dito milhares
até o final do poema.
Mas é preciso que saibas
que poesia acaba.
Encerro aqui.
De tudo o que não te disse
é bom que saibas.