Entre sem se perder...

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Encantadora de serpentes

Pintura de Roberto Ferri - Itália



Não é transtorno

é magnetismo...

É a dança do gestual...

gemo entre as sílabas...

E tremo e me mordo

e arfo e sibilo...

e me curvo.

Sou um rito.

E te olho querendo.

E efetivamente...

E torno a me morder

e insinuo.

Não se transtorne...

não é transtorno...

E vivo em torno

e giro e rodopio...

E te digo...

Nunca mergulhaste...

Respira na umidade

e te afogarás.

Então, conhecerás água.

Não haverá memória de mulher.

Estou chegando...

E quando eu chego, 

venta.

Não como com talheres...

E estou sempre com fome...

e sede.

Não me verás vestida...

porque nasci nua...

Carrego comigo o cio de todas.

A luxúria é onde habita

a minha extrema unção.

Basta juízo.

Que a terra trema.

Que o planalto vire planície.

Estou chegando...

e há tântra, tântra,

mas tântra coisa a dizer.

Monocromática

Este inverno

fez nevoeiro.

Não pude olhar 

pra mim...

Vejo cataratas

caio cascatas...

Ando perdida de ti.

Na fumaça 

dessas noites...

Insones são os sons,

ansiosas as estrelas.

Durmo nebulosa.

Amanheço esperando

que a serração baixe

e o sol rache...

vindo do olho...

Do centro,

do furacão

virá a redenção.

Olha-me



Ao me encontrar...

não me abraça.

Respira profundamente.


Que eu não te ofenda...

deixe que eu chore.

E não me toca...

Por favor, 

eu te peço,

não me toca.

Perdi a pele

num incêndio.

Tentando salvar,

quase morri.

Só diz que és tu.

Só diz que eu errei.

Só me ensina o certo.

Só diz que todos os poemas

eram pra mim...

Só diz que todas as músicas.

Só diz o que preciso ouvir.

E deixa chover...

Por horas

só me assisti.

Que tu me vejas...

sem proteção.

Essa sou eu.

A verdade reflete

toda a minha timidez.

Traga-me água doce.

Traga-me o quanto puderes...

e tenhas paciência

em me hidratar...

Como o beija-flor,

trata-me em conta-gotas.

Quando sentires que é a hora...

Olha-me,

e só me diz que és tu.