Entre sem se perder...

domingo, 24 de agosto de 2008

Ah, meu pai...
E sua difícil arte de amar...
Ah, meu pai...
O homem que mais me fez chorar.


Os verdadeiros náufragos
conheci na areia.

Não endireito...


Eu
breve...
ele
em entravos...
Eu
estado de greve...
ele
preocupação com centavos...
Eu
em Porto Alegre.
Ele
em Davos.

Varandas de Deus


Os olhos de Deus não costumam descansar.
Os olhos são amarelos claros
quase brancos.
Eles desaparecem numa lilás imensidão.
Quem olha pra Deus uma única vez sabe.
Não são vistas grossas.
Sua cegueira o faz saber bem das coisas.

Caminho sem fim



Voa em tua Redenção
fazendo primavera
embaixo do viaduto
Do primeiro vôo
parte rumo as estatísticas de trânsito
rompendo a mágica presença do teu divino
sobre o asfalto.
Voa mãe andorinha...
Parte solitária
rumo a outras tristes...
Porque uma andorinha só não faz verão.

Continuemos...
Ando rinha
Em Porto Alegre.

Depende...


Eu que andei com os cabelos soltos
porque achava que nem eles
mereciam estar presos.
Eu que tenho guardado na gaveta
grilhões, grampos, correntes
pulseiras e muitas alianças.
Eu que debaixo da cama tenho sujeira
atrás da porta a vassoura.
Eu que abandonei os relógios.
Preferi não ter profissão
preferi ser meu patrão.
Eu que crio gatos por motivos óbvios.
Eu que rasgo fotografias
com a mesma facilidade que as mando revelar.
Tenho estado amarrada a esta doença.


O preço que se paga por ser rico é muito caro!

Agosto


Agosto de Camaquã
não é agosto num lugar qualquer.
É o agosto mais agosto do mundo.
Agosto de greve do magistério.
Agosto é meu pai batendo máquina
é a caligrafia da mãe que ostentava aquele “A” maiúsculo.
Vontade de respirar umidade de lagoa
de cheirar suor orvalhado
de cantar com febre
de tomar gemada.
A professora tirou para sempre aquele peso de mim.
Esquecei pra sempre o poncho lá na escola.
Esta manhã fria me fez trajar um agosto
que me levou à presença da falta...