Entre sem se perder...

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Afrodite se quiser

Venus (detail), by Henri Pierre Picou (1824-1895), French

Os longos fios hão de te percorrer.
Odores breves se acumularão.
Onde repousa um estreito brilho de sol, 
lá estará a indicação do caminho.
Siga as retas...
também as curvas.
Haverá vales e montanhas...
refúgios úmidos 
e uma relva baixa,
esplendorosamente dourada. 
Não se pode cultivar girassóis à noite.
Amanheça,
que te acordo.
A cada dia,
o amanhã é menos profano.
Estas madeixas desfilam 
a majestade que se disfarça de mulher.
Faz desta cortina vermelha,
teus lençóis.
Toda trama,
ricamente engendrada,
pode te afogar em mechas.
Condenado a gadeia.
Tira minhas salamandras para dançar
e procura ondinas nas cavidades.
Enrosca-te no labirinto
que cairá sobre o teu rosto.
Permita amor,
que os silfos te desmascarem de vez.   
Desacortina-me
sobre esta colcha terracota,
recamada por gnomos. 
Não á toa,
mantenho este capricho.
Então, 
despida de tudo,
na tua frente,
nunca parecerei, 
absolutamente nua, 
te iludindo sempre
quanto a descobrir
um novo mistério.
E tu curioso,
me possuis um milhão de vezes,
e a cada vez,
em tuas mãos,
me torno, 
cada vez mais casta. 

Mil e uma noites



Antes do Islã... 
numa outra Arábia.
Ali,
numa outra Arábia...
Ali...
Baba Ali, 
Baba o quanto puderes, ali.
É bem ali, Ali.
Inverte a pergunta
 para que saibas
quantos vocês são.
És tu,
tu contra quarenta ladrões.
Tu és o único sétimo.
Palavras mágicas
podem revelar
segredos de caverna.
Use o verbo,
antes que descubram,
antes que me apedrejem.
Dentro há um tesouro.
Se queres felicidade,
vá além de Bagdá.
Carregue junto ao peito,
incenso, mirra e ouro.
Siga a estrela.
Siga o pentagrama.
Não o inverta, jamais.
Quando a serpente
tiver cumprido a sua
peregrinação,
vértebra por vértebra, 
entenderás os signos. 
Entenderás a unidade do espírito santo.
Toda a noite,
 impura que pensas que sou,
te contarei histórias fantásticas,
que devem ser interrompidas,
até outro anoitecer.
Abre-te
como um sésamo se abre.
Se temes, 
me dá tua mão
que vos apresento à morte.
Ao meu lado, 
finalmente,
te consagro, meu senhor
- rei, sacerdote e profeta -
para que vivas,
eternamente.