Entre sem se perder...

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Era uma casa...


O sonho encantado
abandonou o chalé de madeira.
A casa amarela,
amareleceu um dia.
Acordou num tom sombrio,
quase ferrugem.
(...)
Se mudaram para o lado
duas nuvens carregadas.
A dona da casa passou a viver
aos lampejos.
A dona da casa conjugava
sala e cozinha no presente
os verbos no passado.
A dona da casa se envenenava
diariamente,
limpando banheiros.
E passou a achar dois filhos muito,
gato e cachorro muito,
as peças de casa muito.
Marido muito pouco.
A dona da casa
aumentou de peso.
Passou a pesar.
Tudo que era leve,
pesava.
A dona passou a sofrer
de uma doença danada.
A dona da sobrecarga
era dona de canteiros de morango.
Morangos também carregados
que colhiam
cotidianamente
toda a poesia,
incapaz de enxergar.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Olaria

Pulei a cerca pra beijar sapo.
Comprava secos no armazém
que era molhado.
Era um menino da saias,
 mais esperto que a quadra,
cansava a esquina.
Morava no bairro de barro,
com heróis de pedra.
Caçava muçum no banhado.
Ostentava uma chinelinha brejeira
e um sorriso Havaiana - legítima.
Passam todos os dias na minha frente...
um o outro pára e cumprimenta.
Sabia o número de grãos
que havia comido de areia.
Monaretta ao sol.
A macela me recolhia pra dentro.
O ginásio com o seu vozeirão inconfundível
ecoava papagaio
travessuras recorrentes.
Trepava todos os muros...
subia todas as árvores.
A sorte foi que cresci,
odiando amar tudo.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008


A M A R E L A
sem páginas de um livroPOESIA ILUSTRADA
Amarela é um livro multimídia, em formato audiovisual, com animação e locução, página à página. Os epigramas – poemas curtos - abordam um universo ficcional de onde emerge a poesia. Amarela é um personagem que brinca com as palavras, ansiando se comunicar. Dentro de um discurso visual, propomos ao leitor a possibilidade de visitar o mundo de onde a poesia saiu... Amarela estreiou em 2005, na 51ª feira do Livro de Porto Alegre, esteve em exposição na Casa de Cultura Mario Quintana, no Memorial do Rio Grande do Sul, na Galeria Iberê Camargo, na Usina do Gasômetro, fez parte dos interprogramas da TV Educativa durante o ano de 2006. Desde então, a autora Silvia Mara, participa ativamente de eventos culturais, Feiras do Livro, palestras e entrevistas sobre o conteúdo da obra. Por sugestão, o DVD da obra poderá ser encontrado em Porto Alegre à venda no Studio Clio - Instituto de Arte e Humanismo - Rua José do Patrocínio, nº 698 Cidade Baixa - Porto Alegre/RS Brasil - Telefone: (51) 3254.7200
Após três anos da estréia da obra, a equipe de divulgação do livro, disponibiliza os endereços abaixo para que o mesmo tenha livre acesso através do Youtube.

https://www.youtube.com/watch?v=NxbTOxle4tQ




Contatos: Assessoria de Comunicação
Silvia Mara
Telefones: 51 - 3231 8588
51 - 8603 8888

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Os poemas constantes neste Blogger são de autoria da escritora Silvia Mara.
A reprodução parcial ou integral destes textos só é permitida se constar do nome da escritora, devidamente expresso, após prévia autorização, podendo a mesma ser solicitada através deste endereço eletrônico.
Postura diferentemente desta, viola a Lei nº 9.610/98 - Lei de Direitos Autorais.
As imagens utilizadas para ilustrar os poemas desta página preservam selos, logomarcas, créditos, circulam livremente pela Internet ou já caíram em domínio público.
Qualquer problema favor entrar em contato com a Assessoria de Imprensa desta Home Page.
Copyright©2008 Silvia Mara
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segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Noite Feliz


O Papai Noel não vai trazer o vovô de volta.
Pode pedir...
O Papai Noel costuma decepcionar muito as crianças.
Oh, pequenino!
(...)
te conforma com o carrinho que o bom velhinho te deixou.
Ora
o carrinho já envelheceu?
Não é mais do ano?
Sei...
o papai perdeu o emprego.
Não chore pobre criança.
Pede o quiseres pra vovó.
Pra ser amada ela te dará tudo
como faz com todos.
A propósito...
chegou a cartinha da mamãe
pedindo herança.
Isso o Papai Noel também não pode dar
mas vai ver o que pode fazer com o tabelião.
Pobre criança
inconformada com o seu presente.
Aproveita
aproveita e se despede da magia desta noite.
Amanhã todos inconformados
te convencerão que sou o homem do saco.
Não importa que tu não chore
tenho lágrimas suficientes pra nós dois!
Não adianta alguém tentar ensinar
aquilo que só a gente
pode aprender...

domingo, 12 de outubro de 2008

Sociedade anônima


Eleito o pai do ano
foi pego fazendo boca-de-urna.
Descobriu que parte dos eleitores
pertenciam a uma boca de fumo.
Indistintamente todos
perderam a boquinha.
Alguns nomes saíram da boca do sapo
outros flagrados na boca do lixo.
A ex primeira-dama é conhecida
por boca do inferno.
Só por isso sou desbocada.

Para saber mais sobre a escritora está disponibilizada na Web fotos e vídeos através do Orkut.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Crime e castigo


Quando inicia
fala aos meus pés...
se detêm em ouvir os dedos
que murmuram.
Ao calcanhar inconfessável
segredos vulneráveis.
Ensurdece os vizinhos.
(...)
Ocupa-se longamente
e permanece
permanece.
Morde meus lábios
todos os lábios.
Pequenos
médios
grandes...
me descobre
me cobre
me cobre.
Brinca de esconde-esconde
nas coxas emprestadas.
Sua
sua
sua.
Soa poesia pela boca
sua boca pelo corpo
seu corpo pelo meu.
Em par
somos ímpares.
E repete
repete...
Até exaurir os lençóis
manchar as paredes
enguiçar a janela
incendiar o abajur.
E chama
chama...
Faz suar o banheiro.
envergonha a fechadura
queima a comida.
Devora tudo o que sou.
Até que eu suplique
não posso.
Até que implore
chega.
Até que desmaie.
Acordamos
naquele horário
cientes do que fizemos.
Só nós dois sabendo
em que estado
abandonamos os corpos.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Poesia de Pedra


Pedro era uma espera.
Por Pedro esperei a vida toda.
Pedro deveria ter vindo.
Mas Pedro morreu.
Só eu sinto esta dor.
Prematuramente
Pedro morreu.
Pedro preferiu não vir.
Pedro preferiu
abrir os olhos bem antes.

Nulo


Vôa uma fina película de números sobre o asfalto.
Dá pra ver o riso honesto
do sem vergonha.
A cidade desfila o silêncio
de um dia de festa
sem acompanhamento.
Guarda-se na urna
restos secretos
de uma ética absolutamente mortal.
Há um entusiasmo desdentado em cada esquina.
É o carnaval dos porta-bandeiras.
É o dia sagrado dos demos.
As ruas se arrastam
cheias dos sujeiras
ouvindo-se o tempo todo
o barulho estridente
de quem confirma no verde
a desesperança.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Publique-se com data retroativa

Ontem ele lembrou
teu mau hálito
teu mau hábito
recordou surdo
teus gritos mudos
a celulite estérica
e os chiliques
travestidos de sensibilidade.
Lembrou o cinzeiro
que não aguentava teu gosto.
Ontem ele disse
de fato
com todas as letras
- nunca te amou!
Ontem o telefone fofoqueiro
falou pro alto-falante
sobre o teu desespero.
Falou dos teus chás bipolares
que dançam pela casa
ao patético som de sinetinha.
Ontem soube em detalhes
finalmente
num ritual de vergonha
das infindáveis cenas
do teu grotesco.
Ontem falou do teu peso
e da ineficiência de se lavar.
Ontem ele disse
o quanto era cômodo
o quanto era incômodo.
Ontem me disse
com quantas precisou deitar
quantas tentou amar...
Ontem me falou
dos tapas na cara
que as cartas te deram na mesa
das cenas
onde até a violência se deprimia.
Ontem me contou
do copo que te persegue
e da mania de perseguição.
Ontem seus nervos riam
pensando no banho provocativo
regando tua nudez deteriorada.
Ontem precisei acalmá-lo
o acalmei a noite toda.