Entre sem se perder...

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Armadura


A fresta espreita o seu mundo
de guerras equivocadas,
 ilusórias.
Sem rumo,
ele marcha,
com saudades
 da própria solidão.
O rancor pesa,
 entalhado no aço.
O cavaleiro digladia-se.
O herói carrega Atlas nas costas
e sua falta de fé no bolso.
Não há honra maior
do que ser vencido pelo amor.
E pra isso a vestimenta
é apenas um peito nu.
Toda a donzela
só precisa de um lenço.
Será o sinal
para iniciar a travessia
do seu estreito canal 
e te fazer nascer de novo.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Descrença



Sou a espera, a calma.
Há uma mansidão 
nessa minha inquietude.
O que trago, veio comigo.
Abriste mão de mim
por isso, me levaram.
Não sabias quem eu era?
E não sabes ainda 
o que fazer comigo?
Todas estão contidas em mim.
E este poder é feminino.  
De lembrar, agora mesmo,
desprende...
Eu dancei na tua frente,
nua e prateada.
Tu não me viu.
Tu também não acreditavas 
e aumentaste o coro dos incrédulos.
Sou aquela cercada de animais
por toda a volta.
Ao pronunciar meu nome,
ouvirás um hino em teu louvor.
Cala-me pra sempre
porque só a ti é permitido.
Se a beleza te confunde,
fecha os olhos
e fica só com o meu espírito.
Toma-me em teus braços,
uma única vez,
e recordarás que todo o meu corpo
é pura oração. 

domingo, 12 de maio de 2013

Renúncia






Sou o mistério que se desvela.
Sou este misto, este vulto.
Parto pra nunca mais.
Matriarca e tu não entendes.
Não importam minhas sementes.
Não queres linhagem...
Cultuar todas as bandeiras do mundo
te fará despatriado.
A ti importa um amor a cada guerra. 
Eu, no entanto, devo ir...
porque se fizeres amor comigo,
uma vez mais, 
morrerei em teus braços.
Estou prestes a me ver refletida. 
Estamos próximos de desvendar
o mistério da crucificação.
Todos os magos sabem quem sou.
Sou aquela que tendo o poder, 
o maior de todos os poderes, 
abdico, por amor,
apenas para ser como tu és,
um mísero mortal.

sábado, 11 de maio de 2013

Chegada a hora...

 (Para Maria Fernanda Serpa, em 11 de maio de 2013)


Quando alguém morre...
um minuto do nada é concedido.
Tudo pára, tudo suspende.
Cada passagem dispensa um instante.
Ninguém de nós sente, ninguém de nós percebe.
É o tempo dentro do tempo.
É a relatividade das dimensões.
Naquele instante de suspensão,
Ele,
em sua infinita magnitude,
homenageia a todos que partem
com um minuto de silêncio
 e uma música inaudível.