Entre sem se perder...

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Hoje muda


Bons tempos de paralisação.
Bons tempos
em que existia razão pra tudo.
Que bom estudar lá...
Já no tempo em que era só por dizer:
- Estudo no Julinho.
Protestos.
João Pessoa bloqueada.
A Brigada desobstruia ouvidos
e o trânsito ensurdecia.
Sirene
buzina.
Caos na Ipiranga.
Hoje tudo mudou.
Quem diria...
pra sempre a manifestante
presa ao Chefe de Polícia.

Herança



Um irmão pra lá de consumista
o outro um tanto negligente.
Uma mana metida a samaritana.
Um primo de amores impossíveis.
A língua que carrega uma tia afiada.
Como é difícil conviver
com a baixo-estima da mãe
com a confusão do tio
com o autoritarismo do pai
com a infantilidade da caçula.
Gritos
trejeitos
tiques e taques
desta gente
que ninguém suporta dentro de mim.

Reféns

Podia ter fugido
mas fiquei.
Podia ter corrido
mas cansei
Podia tanta coisa
que nem sei.

(...)
Podia tê-lo pego na saída da escola
como as avós de verdade.
Mas seqüestraram minha bondade.
Podia ter sido mãe de todos eles
mas não fui.
Não sou.

Não vou
além do papel.

Neste conto de fadas
as crianças envenenam a madrasta.

Zig-Zag


Tento despir as paredes.
Queria apertar um botão
e deixar a casa nua.
Mas não cessa a vontade de usar todas as peças.
Quando sinto passar frio alguma janela
costuro qualquer falta que as cortinas me possam fazer.
Tapo furos. Aceito novas encomendas.
Por isso quando me rasga
te retalho.
Fazemos pequenos reparos.
Compramos um novo tapete.

Mas voltamos a tropeçar na bainha.