Entre sem se perder...

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

História muda


Meu pai perdeu seus dedos na máquina de escrever...
Seus dedos nunca mais voltavam.
Uma vez que iam
nunca mais voltavam...
Meu pai odiava sua letra
amava suas mãos.
No caderno de caligrafia
o destino garranchado de um datilógrafo.
Meu pai envelheceu a máquina de escrever.
A máquina de repente ficou cansada.
Aquele pipocar era minha canção de ninar.
Um dia só se ouviu o silêncio.
A máquina de escrever emudeceu.
Então meu pai começou contar histórias da máquina de escrever.
Lembro de todas as histórias.
Histórias que só interessavam a um escrivão...
Nunca mais vi a máquina de escrever conversando com meu pai.
Então a máquina aposentou o tempo
e arquivou meu pai.
Meu pai conhecia o mundo com a ponta dos dedos
não com a palma da mão como os pais normais.
Meu pai dizia que as paredes tinham ouvidos...
Os dedos do meu pai deveriam receber proteção à testemunhas.
Meu pai só silenciava diante da máquina de escrever.
Até que um dia a máquina tagarela emperrou meu pai num silencio misterioso.
A lembrança da máquina não cala.
A vida do meu pai muda.

Um comentário:

Unknown disse...

Adorei o poema! Me identifiquei com algo...