Entre sem se perder...

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Baú de atavismos


Desço o cerro do mate piazote.
Na parede do vento, recuerdos.
Vasculho minhas encruzilhada.
A memória velha abre sorriso
que nem china em dia de baile.
Lá vem época perdida na poeira
trazendo uma tia menina pela mão.
A água derrama charqueada quente.
Pelo nó na garganta
passa boi, passa sol, passa geada...
Retrato de chuva desbotada, o resto da boiada.
E até me brisa o beijo da primeira namorada.
No vinco do pé
a pedra descalça anda faceira
na rua que me tem nostalgia.
Atávico é o nome que se dá
às terras do sem fim
que vez o outra
rasga a gente dentro da gente.
O orgulho do vô Maneco deu uma ajeitada
na bomba outra manhã.
Passou por aqui
recomendando bom dia.
Veio à boca o gosto da vidraça quebrada
e a dor do Chorão que teve um tombo roubado.
Tiro a pólvora de cima do baú
que agora só guarda poeira
cicatrizes de minha mãe
e a casca de ferida de outras tantas.
Pelo olho da fechadura
a memória ramelenta.
Alguém destrinchou as estradas que se atravessaram por mim.
Desenterro histórias
num desfile antigo de sobrenomes.
Passa uma colcha de família
acobertando geração.
Passam meus retalhos
que retovam cuias de mão em mão.
A casa mimada vivia à beira da calçada
hoje descasada.
Minha irmã moça também continua solteira.
Entre um roncar e outro
vem se chegando
um lembrar de mim guri.
Metido a domador de donzela
me lembro xucro, arredio.
Suspiro vida a fora um vento
que o atavismo cisma soprar de volta.
Aquento longe o pensamento
passo e repasso a idade.
Continuo mateando esta palavra amarga
que só por grossura teimo não chamar saudade.

E o tempo chia uma falta loca.

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