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terça-feira, 4 de março de 2014

A Prostituta Sagrada


Desfila a sabedoria no lugar dos quadris.

A existência entoa um hino de louvor telúrico.

Decidiu viver como quem declama poemas.

Triunfa acesa, transformando onde pisa em altar.

Guarda incógnita toda a sua obviedade.

Reflete no corpo a beleza d' alma.

Por ser pura, seus pés são filhos d'água. 

Ela permitirá os lábios como quem abre a cortina.

Afastará as pernas com quem confessa um segredo.

É resignada para que a obra seja edificada.

Intercala a serenidade de um vulto

com a impaciência de uma torrente.

Seus dons são sustentados por gerações.

Doa-se para que o mundo lhe retribua.

Não se sujeita a paixões, nasceu para amar.

Não pode ser de ninguém, pertence ao mistério.

Possui toda a sofisticação da simplicidade.

Tu és a face eterna do feminino.

Divindade humana, encarnação do amor.

Arquétipo da grande-deusa provedora.

Cumpre demanda por pura devoção ao que é.

Celebra a dança do espírito no sexo.

Conecta-se com a emanação natural do amor divino. 

Viva senhora, suas quatro fases.

Venerável recoberta de estrelas.

Revelação espiritual extraída do âmago do erotismo.

Vive deusa o culto ao deus-falo.

Tu que abrigas dentro de ti a união dos opostos.

Tu que mesclas a candura com a sagacidade da amante.

Portentora do orgasmo sagrado.

Doa-te integralmente, sendo inteira para todos.

Incognoscível, és a vocação maior.

No masculino encampa tua metade-total.

Senhora de mil faces.

Senhora de mil nomes.



Teu nome lembrará a prata.

Teu nome lembrará a selva.

Teu nome,

o som da própria serpente.

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