Entre sem se perder...

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Alquimia


Às vezes, eu e a cozinha nos estranhamos...
A copa é a parte mais íntima da casa.
Quem abre minha geladeira, pode tudo.
Minha cozinha é cheia de detalhes
apegadas a pormenores.
saturada como eu e o resto da casa.
Móveis modernos, decoração barroca.
Há pouca coisa de comer na cozinha
e a utilizo à moda laboratório
só para experimentos.
Na calada da noite exercito bruxaria.
Preparo e sirvo venenos.
Ainda assim, às vezes, eu e a cozinha nos estranhamos.
Mulher e cozinha combinam.
São sensuais, envolventes.
Cozinhar é uma prática semelhante à masturbação.
Ter prazer em servir é característica do feminino.
As mulheres amam a subserviência consentida.
As mulheres deveriam fazer amor na cozinha.
Em meio a um polvilhar e outro
banquete.
Às vezes, eu e a cozinha nos estranhamos.
Há na cozinha um magnetismo reencarnacionista
faz incorporar uma vó
qualquer tia italiana.
Minha mãe blasfemava muito quando estava na cozinha
maldizia aquele lugar
recomendava as filhas que fugissem.
Desde a Idade Média
os mesmos fogões à gás queimam mulheres amargas que fazem cozido.
Por isso minha mãe dizia palavras feias.
O código das bruxas antigas
que cozinhavam bem são palavras escabrosas.
Minha bruxa velha odiava seu caldeirão porque incorporava
bruxas mais velhas
muito mais maledicentes.
Elas se reuniam para falar mal dos homens.
E muitas delas cozinhavam grupos deles nos tais panelões.
Isso quando não os transformavam em sapos.
Aqueles que mais tarde vieram a ser os tais príncipes.
Que hoje são psicólogas que se encarregam de matar.
O problema das bruxas antigas
é que não fizeram amor perto do fogo.


Nenhum comentário: